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Os desafios do aleitamento materno e a participação da família
O Agosto Dourado reforça a importância participação da família e de toda a sociedade no incentivo ao aleitamento materno exclusivo da criança até os seis meses de idade.
Robson Valentim
Mais do simplesmente alimentar uma criança, amamentar estabelece uma ligação profunda entre a mãe e o bebê. Para a mãe, são muitas as vantagens. O leite oferecido ao bebê na primeira hora após o parto, previne sangramentos, evita anemia e reduz o risco de câncer na mama e nos ovários.
O bebê também se beneficia com um alimento rico e feito sob medida para ele. “O leite materno já vem na quantidade e temperatura ideais para o bebê. Ele contém todos os nutrientes necessários, a quantidade ideal de água, gorduras e proteínas. Além de, é claro, conter os anticorpos adquiridos pela mãe e que são passados para o leite que chega até a criança. Eles atuam como uma vacina nos primeiros meses de vida da criança, até que o bebê tenha o seu sistema imunológico desenvolvido para produzir esses anticorpos. Ou seja, o trabalho de imunização, de defesa do organismo contra as doenças nos primeiros meses de vida da criança, é feito pela mãe por meio do leite materno”, explica a ginecologista obstetra da CLÍNICA GUADALUPE, Dra Carolina Flores.
Rico em vitaminas e anticorpos, o leite materno é um alimento vivo que não precisa ser complementado, salvo em casos específicos. “A necessidade de complementação deve ser avaliada por um especialista, no caso, o pediatra. Mas, se o bebê está se desenvolvendo bem, crescendo e ganhando peso, não há necessidade de oferecer outro alimento à criança”, reforça a ginecologista.
O leite oferecido na primeira hora de vida da criança, aumenta as chances de uma amamentação feita de forma correta. Porém, amamentar não é uma tarefa fácil. Requer aprendizado, persistência e muita paciência. “A amamentação não é fácil e precisa sim de ajuda. É necessário um aprendizado. Hoje em dia há um vasto material na internet, cursos, material para leitura e vídeos para que a mãe possa aprender a chamada pega correta. Não existe uma pega automática. É um momento difícil e as mães ficam muito sozinhas. Mas, com o conhecimento adequado, é possível”, salienta Dra Carolina Flores.
Mesmo com benefícios comprovados para a mãe e para o bebê, o aleitamento materno é rodeado por mitos que atrapalham e que podem até impedir que muitas mães amamentem. “Quando tive meu primeiro filho, o Davi, achava que meu leite era fraco e insuficiente para as necessidades dele. Ouvia a criança chorando e pensava que podia ser problema do leite. Isto me deixava com muito insegura”, conta Aline Mara de Carvalho, 36 anos. Ao lado do marido, Fernando Xavier Pereira, 40 anos, ela embala Heitor, o segundo filho, agora com 2 meses.
“Quanto ao fato de muitas mães acharem que o leite não é suficiente ou que ele é fraco, podemos afirmar que isto não é verdade. O leite, a princípio vem em abundância e vai se regulando de acordo com a demanda da criança. Ou seja, ele é produzido na quantidade ideal para a criança. Não vai sobrar muito, mas, também não vai faltar”, afirma Dra Carolina Flores.
“Já na segunda gravidez, a gente pensa que vai tirar de letra, que já sabe tudo. Mas, não é bem assim. A gente aprende que cada criança é diferente e uns medos acabam voltando. A diferença é que você fica mais confiante e consciente de que tudo vai passar e que quanto mais tranquilidade eu tivesse, mais conectada eu estaria com o Heitor e melhor seria para a produção e a qualidade do leite”, diz a mãe.
Uma conexão que se reforça, criando um vínculo profundo entre mãe e o bebê, a cada mamada. “O contato da pele mãe com a pele do bebê, faz com que a criança ouça o ritmo do coração da mãe. Os mesmos batimentos do coração que ele escutava no útero. O que passa para a criança uma sensação de segurança, semelhante à que ele sentia no útero materno. A criança enxerga a curtas distâncias e, o processo de amamentação permite com que ele veja o sorriso, os olhos da mãe. Tudo isso cria e reforça os vínculos de amor e afeto entre a mãe e a criança. Isto se traduz numa criança que vai se sentir mais segura, confortável e calma”, informa a ginecologista.
Esse ano, o Agosto Dourado teve como o tema o envolvimento das famílias no incentivo ao aleitamento materno. “Uma excelente iniciativa pois, a mãe precisa ter tempo e tranquilidade para a descida do leite. E a família deve ajudar nisso em todos os aspectos. Oferecer um lugar confortável para a mãe e permitir que ela descanse é importante. Se houver estresse, uma ansiedade muito grande, o leite não desce. É necessário que a mãe tenha tempo para que ela possa olhar o bebê, conversar com a criança, tocar, abraçar com ternura. Todos esses estímulos fazem com que o leite desça”, enfatiza Dra Carolina Flores.
“E neste aspecto não posso reclamar. O Fernando, meu marido, foi muito companheiro nos poucos dias que ficou em casa por conta da licença e, mais ainda, quando retornou ao trabalho. A parceira dele foi essencial. Pois, amamentar gasta tempo. A ajuda dele foi muito importante com os afazeres de casa e, principalmente com o cuidado com o Davi. Amamentar requer uma entrega muito grande e fica difícil dividir a atenção com outro filho”, conta Aline.
O Agosto Dourado também enfoca a responsabilidade da comunidade em relação ao aleitamento materno. “E nesse campo ainda há muito a fazer. A licença maternidade de 120 dias, ou quatro meses, por exemplo, é incompatível com o aleitamento materno de seis meses, exclusivo. Por mais que a mãe vá trabalhar e deixe o leite coletado não é a mesma coisa. Com a retirada manual do leite, a mãe deixa de estar perto da criança, deixa de sentir o cheirinho, deixa de sentir o toque, e a produção de leite diminui. Temos também de rever a curta licença dos pais, o que muitas vezes impede a participação deles no processo, deixando a mãe sozinha. Só com a participação de todos, teremos uma sociedade mais saudável, as crianças vão adoecer menos e as mães faltarão menos ao trabalho. Trata-se de um investimento em saúde e bem estar que se refletirá na sociedade como um todo”, conclui a ginecologista.